Disco Novo
- Carolina Ribas
- 2 de fev. de 2017
- 3 min de leitura
Perdão palavras, mas vocês têm que sair...
Me desculpe pela expulsão tão repentina. Sei que já te redigi algumas vezes, mas dessa vez você sai do bloco de notas e seu destino não é a lixeira, prometo.
Foram inúmeras noites que vocês perambularam na minha cabeça. Nem os truques de respiração, nem Mahmundi nem a música clássica, mais clássica de todas conseguiam te tirar. Fechar os olhos era sinônimo de bombardeio de memórias e “e ses” da vida, aqueles que nossos pais nos interrompiam no início da pronuncia; Era relembrar o nosso primeiro beijo uma, duas, três da manhã. Eram três da manhã e o CD já havia se repetido. Queria um disco novo. Um que durasse, que pudesse se repetir sem cansar.
A história desse disco velho - uma vez novo - é simples: a caixa quebrou logo quando ganhei... E o papel das letras perdi dias depois, mas enfim... Bom, ele também riscou na primeira vez que o escutei, impedindo assim que a faixa 4 tocasse. Era minha -nossa- música. Mas, tudo bem. Mais do que escutar a música eu só queria lembrar de você( você, não as palavras). “Obrigada por não funcionar mais” diriam alguns. Mas o lamento parecia me confortar… Era melhor lembrar de você do que esquecer.
3 e meia da manhã e nada de dormir. Não pela falta de sono ou pelas muitas palavras que não tinham sido exteriorizadas até agora, mas pela falta de você. E que falta de você! E falta de comida também, por isso me encaminho a cozinha mas sem acender as luzes como sempre o fazia… Confesso, a minha extrema sensibilidade me tornou um pouco insensível. Abro o armário da cozinha. Observo-o e compartilhamos nossa sensação de vazio. Ele me oferece duas opções: A minha -nossa- bolacha favorita ou outra: aberta, sem graça, fruto de tentativa de emagrecer.
6 e meia da manhã.
Sim, eu escolhi a minha -nossa- bolacha e sim, ela possibilitou a construção de mais um império de planejamentos futuros improváveis porque vocês (palavras e você) se permutam e não me abandonam em nenhum momento. Paro pra pensar em quantas palavras deixaram de ser ditas. Penso e revejo os momentos que poderiam ter sido diferentes… Mas não, foi tudo tão perfeito. Os olhos brilharam, o coração ficou apertado, os calafrios dominaram nossos corpos e tudo apagou; Só ficamos nós no meio daquelas pessoas, lembra?
Diz que lembra.
2 da manhã.
Já se foram alguns dias de madrugada. Coloco o meu primeiro disco de vinil, finalmente o disco novo - que ainda não é velho - pra tocar e sigo o processo de uma boa noite de sono. Conto os dias que já não nos víamos… um, dois, três, quatro. Eram 4 da manhã. Mas dessa vez porque ao meu lado estava você e a noite podia tornar-se dia sem algum problema.
O disco fluiu a noite toda.
Abro os olhos. É 9 da manhã e eu cai no sono. O disco de vinil ainda toca e a luz transpassa o vidro da minha janela, mas no quarto só há uma pessoa. Esqueci ele ligado; Você também. Esqueci que discos nunca pararão de tocar se não façamos com que parem de tocar. Desliguei a vitrola, fechei a cortina, evitei você.
é inevitável
A sua trilha sonora perdura
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